O artista mineiro Douglas Viana apresenta em suas obras uma mistura intrínseca de elementos que aparecem com frequência em suas entregas: manchas, respingos e espirros de cor em objetos, imagens e suportes que possuem em si proximidade profunda com seu criador.

O que chamamos de Street Art ganha outros significados quando estudamos não só a relação das obras com a pessoa Douglas, mas também os diversos fatores que facilitam a conexão com o expectador, além de chancelar, quase que naturalmente, a personalidade que estampa a escolha da paleta e o depositar de elementos nostálgicos que se fizeram presentes em momentos específicos de sua infância.

A estética acriançada inconfundível revela a audácia inconsequente de se fazer pertencer a lugares sociais teoricamente inatingíveis, o que evidencia em todos os momentos o seu posicionamento crítico politizado. Enquanto as grandes instituições do circuito da arte historicamente patrocinam e promovem as belas artes e as produções que dialogam, de certa forma, com o cotidiano burguês, o grafite e a pichação entram nesse escopo como marginais, periféricos e representativos de uma linguagem popular apagada no âmbito artístico e social.

A história de vida do artista e a forma como se vislumbra na contemporaneidade a sua intensidade expressiva se desencadeiam a partir de sua familiaridade com a rua, do entendimento dos fundamentos rudimentares de sua criação e dos princípios de instrução e anseio pela religiosidade habituada, muito presente nas diversas fases determinantes de suas obras.

Como um artista urbano multidisciplinar, Douglas amalgama as manifestações da Street Art com a compreensão abrangente do pop, subvertendo-o e criando um novo conceito poeticamente anuente, o “Street Pop”, conceito esse de posicionamento urbanográfico muito reconhecível em todas as suas peças.

O processo significa muito, já que toda a sua abstração artística confessa o resultado da obra, em violências efêmeras de cores e gestos, a sua vivência humana pura e autêntica, exorbitantemente ligada à contestação, bem como à evidência de valores que permeiam toda a sua trajetória.

Tainá Martins